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ESCRAVOS EM PARATY


ESCRAVOS EM PARATY

O Povoado que originou a Vila de Paraty, se desenvolveu em torno do comércio escravo. Seu porto exerceu crucial importância no desenvolver da economia do Brasil Colônia. O tráfico negreiro era intenso desde o século XVII, neste período que vai até o século seguinte, era comum termos apenas um padre. As autoridades não permitiam que este número fosse maior, exatamente pelo controle exercido pelos sacerdotes sobre os ocorridos nos povoados. Assim, com um padre apenas, seria mais facilmente controlado. Não atrapalhando o comércio livre de negros por estas paragens.

Os escravos foram utilizados nos mais diversos tipos de serviços, desde os internos das casas ao arado do campo, colheita e transporte de mercadorias e etc. O fabrico da pinga também teve a mão de obra escrava, sendo seu comércio e fabrico também importantes na economia.

Com a descoberta do ouro, intensificou-se o tráfico negreiro fazendo com que grande número de africano fosse comercializado em nossos portos. Chegavam debilitados e não raro cerca de 20% morria na grande travessia do atlântico. Os outros 80% chegavam totalmente debilitados e doentes. Nas fazendas de engorda se restabeleciam até que pudessem seguir viagem serra acima para chegarem as minas ou nas fazendas de café do Vale do Paraíba, aí já no século XIX.

Os negros que passaram por Paraty foram de diversas Etnias africanas. Destacando-se os CABINDA – Escravos capturados onde hoje está Angola – Provincia de Cabinda. Os Rebolla também de Angola e os CRIOLUOS. No Brasil dos séculos XVIII e XIX , chamava-se de crioulos os escravos não-mestiços que tinham nascido na terra, diferenciando-os daqueles nascidos na África. Os escravos africanos que sabiam falar português e conheciam os costumes brasileiros, eram chamados de "negros ladinos" (derivado de latinos, mas já com a conotação de esperto). Escravos africanos que desconheciam a língua portuguesa e os costumes da nova terra eram denominados "negros boçais". Muito certamente, o tom pejorativo contaminou posteriormente o significado de crioulo. Em geral, os escravos mestiços eram apenas chamados de mulatos, subentendendo-se que sabiam falar português e conheciam os costumes locais como os escravos crioulos.

No início do século XIX, mais de 70% dos escravos eram de origem africana. O comércio de escravos trouxe para o Brasil várias etnias distintas. A maioria era proveniente de vastas regiões da África Ocidental, Central e Oriental e predominavam os de origem Bantu, que falavam diversos idiomas como o umbundo, o quimbundo, o kicongo, o nagô e o macua. Até 1700, os portos de Guiné e Congo eram os maiores exportadores de negros, enquanto que, durante o século XVIII, as embarcações saíam com mais freqüência de Angola. A cidade de Luanda foi a maior exportadora de escravos para o Brasil. No Rio de Janeiro predominavam as principais etnias: Mina, Cabinda, Congo, Angola (ou Luanda), Kassange, Benguela e Moçambique. Já os Gabão, Anjico, Moange, Rebola, Kajenge, Cabundá, Quilimane, Inhambane, Mucene e Mombaça eram de menor número.

Muitos desses grupos possuíam formas de identificação particulares. Alguns apresentavam cicatrizes faciais, enquanto outros costumavam limar e/ou entalhar os dentes.

Desde sua captura até o desembarque no Brasil, os escravos experimentavam, no mínimo, um ano de cativeiro. Como o índice de mortalidade dos grupos capturados era enorme, havia a necessidade de identificar os negros com marcas feitas a ferro quente para indicar seus proprietários. Recebiam na pele também o sinal da cruz como prova de terem sido batizados no ritual católico. Muitos eram marcados após desembarcarem nos portos de destino ou então eram remarcados.

O comercio de escravos era tão lucrativo, que mesmo tendo perdido o embarque do ouro para o Rio de Janeiro, com o funcionamento do caminho de Garcia Paz em 1735, Paraty não sentiu o baque da perda. Basta ver que em 1790, contava a Vila com 395 casas, sendo que destas, 35 já eram sobrados. Só o capitão mor Lourenço de Carvalho, genro de Amaral Gurgel, contava com 300 escravos, estes transportavam produtos do porto para o interior da colônia, lhe rendendo grande riqueza e poder. Com a chegada das Mudas de Café na região, também foram os escravos que primeiramente supriram a mão de obra das lavouras do novo ciclo econômico. A Estrada de ferro que foi inaugurada entre o Vale e a cidade do Rio de Janeiro na segunda metade do século XIX, foi que começou a derrocada da Imponente Vila de Paraty. Se agravando ainda mais com as leis da Abolição.

Consta da história oral, que uma missa estava sendo rezada na Igreja de N. S. da Conceição de Paraty-Mirim, a igreja cheia e o padre rezando em latim de costas, quando chegou a notícia da abolição. Ao se virar para a nave da igreja o padre se surpreendeu com a igreja totalmente vazia.

Renan Pinto

23/08/2013


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