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Amaral o Inconfidente


O INCONFIDENTE AMARAL GURGEL

Em 1789, a Capitania de Minas se encontrava cansada de ser extorquida pela coroa portuguesa. Com as jazidas quase esgotadas, o quinto já não era suficiente para aplacar as necessidades da corte portuguesa. Assim, é estipulada uma parcela fixa que deveria ser paga ao rei e aquele que não alcançasse tal valor teria que completá-lo com sua parte, foi estipulado o valor de 100 arrobas como cota mínima para o “quinto”, que dava uma divida coletiva de 500 arrobas, aproximadamente 7.500 quilos. Já não se conseguia pagar os altos impostos, de maneira que muitos já se encontravam endividados com a coroa. Os inconfidentes pretendiam incentivar as manufaturas, proibidas desde 1785, fundar uma Universidade em Vila Rica e proclamar uma República independente de Portugal.

O tempo foi passando e Portugal envia um comunicado para o Governador, marcando um dia para a cobrança das dívidas. O dia da Derrama.

Inconformados, muitos se reúnem para discutir a situação e assim começa a “Conjuração Mineira”, o golpe foi marcado para o dia da derrama. Porém a título de perdoar suas dívidas o movimento foi traído pelos portugueses Joaquim Silvério dos Reis, Brito Malheiros e Correia Pamplona em 5 de março de 1789 .

OS CONSPIRADORES:

Inácio José de Alvarenga Peixoto, ex-ouvidor de São João Del Rey; Cláudio Manoel da Costa, jurista e poeta; tenente coronel Francisco Freire de Andrada; Tomás Antonio Gonzaga, português, poeta e ouvidor de Vila Rica; José Álvares Maciel, estudante de química; Joaquim José Maia, Francisco Antônio de Oliveira, José Lopes de Oliveira, Domingos Vidal Barbosa, Salvador Carvalho do Amaral Gurgel , médico; Luis Vieira da Silva, Manoel Rodrigues da Costa, José Rolim e Carlos Toledo, padres; Joaquim José da Silva Xavier, alferes .

Em meio aos envolvidos no ato da Conjuração, estava o paratiense Salvador Carvalho do Amaral Gurgel. Salvador morava em Vila Rica de Na. Sa. do Pilar de Ouro Preto, e exercia sua profissão de médico cirurgião. Havia nascido em Paraty, em 16 de fevereiro de 1762 e contava então com 27 anos. Filho do Capitão-Mor de Paraty o Sr. Salvador Carvalho da Cunha Amaral Gurgel, acabava de ser envolvido em um ato de traição a Portugal. Seu pai gastou muito dinheiro, chegando a se desfazer de várias propriedades para pagar sua defesa, evitando assim sua morte por enforcamento. O único que foi morto e decapitado foi “Tiradentes”, à título de aviso aos revoltosos.

Salvador Carvalho foi degredado para a África e embarcado no navio “Nossa Senhora da Conceição Princesa do Brasil” ( por coincidência Na. Sª da Conceição é Padroeira de Paraty-Mirim, terra de seus ancestrais ), no mesmo navio foi seu companheiro: Thomás Antônio Gonzaga e mais cinco Inconfidentes, seu destino foi Inhambane, Moçambique.

No ato de sua prisão havia entregado dinheiro e pertences pessoais indicados nos “Autos da Devassa”: Três mil e quatrocentos e sessenta e nove reis; um livro das estações de Jerusalém; e um estojo de cirurgião com cinco lancetas e duas tesouras, em veludo cor de rosa.

Antes de partir fez uma petição querendo a devolução de seu estojo: “Diz Salvador Carvalho do Amaral Gurgel que ele se acha pronto a seguir viagem para o seu degredo, para o que se acha avisado, e que porque na ocasião de sua prisão se lhe prendeu o seu estojo de arte cirúrgica, de que usa e crendo o suplicante lhe seja preciso para o socorro de sua sustentação usar da mesma arte visto que vai para uma terra estranha, suplica a V. S. se sirva fazer-lhe a esmola mandar-lhe entregar o mesmo estojo e ferros, passando-lhe para isso mandado sobre o depositário.

Logo que chegou, Salvador legalizou sua licença e passou a trabalhar na África. Acabou casando-se por lá, onde constituiu família, deixando vários descendentes.

Dos 11 condenados á forca, apenas Tiradentes foi executado, talvez por ser o único de família pobre, acabou sendo tomado para exemplo aos que tentavam contra a coroa portuguesa. No dia 21 de abril de 1792, foi enforcado em praça publica e seu corpo levado a Vila Rica é esquartejado e seus pedaços colocados em vias públicas.

CURIOSIDADES:

  1. A história oral que é contada por alguns, diz que Tiradentes nunca chegou a forca, durante a noite maçons teriam trocado o preso por outra pessoa que teria morrido em seu lugar. Em 21 de abril de 1792 Tiradentes teria sido trocado pelo carpinteiro Isidro Gouveia que havia sido condenado à morte em 1790. Isidro teria assumido o lugar de Tiradentes com a promessa de uma grande ajuda financeira à sua família. Várias testemunhas disseram que o homem enforcado e esquartejado não tinha 45 anos e nem estatura igual a de Tiradentes. O corpo foi esquartejado e seus pedaços foram espalhados pelo Caminho Novo das Minas.

  2. A cabeça de Tiradentes teria desaparecido do poste onde fora colocada e nunca mais foi encontrada.

  3. Tiradentes não usava barba, o regimento onde servia não permitia o uso de barbas nem de cabelos compridos. Em sua cela de prisão Tiradentes tinha uma navalha, usada durante todo o período de seu cárcere, já que não se era permitido prisioneiros barbudos.

  4. A figura que conhecemos hoje como sendo do Alferes é uma figura romanceada, retratada por artistas do século XIX à semelhança de Jesus Cristo, afim de que Tiradentes fosse tornado mito da revolução. Um mártir . A figura de barba foi consagrada durante o período Castelo Branco que em 1966 lhe dedica o título de Patrono Cívico da Nação e baixa decreto obrigando que toda representação do Inconfidente tenha base na escultura de Francisco Andrade, colocada no Palácio Tiradentes.

  5. Em 1969 o carioca Marcos Correa esteve em Paris para pesquisar a vida de José Bonifácio de Andrade e Silva (1763-1838) encontrando ao lado de sua assinatura, na lista de presença da “Assembleia Nacional” francesa estava a assinatura de Antônio Xavier da Silva. Seria este o nosso Tiradentes com o nome trocado?

  6. Já Plinio Tomaz diz que "Tiradentes foi substituído por um ator de circo, o Sr. Renzo Orsini, que resolveu fazer o seu último papel, isto é, ser enforcado no lugar de Tiradentes. Tiradentes depois foi para Portugal, voltando depois ao Brasil e viveu até 1818 quando reinava no Brasil D. João VI, o qual lhe dava uma pensão. O historiador Assis Brasil cita que Machado de Assis, escreveu que Tiradentes morreu de um antraz (bacilo infeccioso que produz pústula maligna) e morava no Rio de Janeiro, na antiga Rua dos Latoeiros, que ficava entre a Rua do Ouvidor e Rosário, em uma loja de barbeiro, sendo que Tiradentes era dentista e sangrador (uso antigo de sanguessugas e sangramento), cuja abertura de negócio se deu em 1810 a conselho do próprio D. João VI".


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