O CENTRO HISTÓRICO E A MARÉ
- guiarenan
- 10 de jun.
- 2 min de leitura

Igreja de Sta. Rita dos Pardos Libertos - 1722
O CENTRO HISTÓRICO E A MARÉ
Tenho visto muitos vídeos onde Youtubers mostram minha cidade, e quase sempre mencionam que as ruas foram construídas para que a maré entrasse para lavar as ruas das fezes jogadas nelas. Devemos esclarecer que apesar de que isso possa ter acontecido, não era corriqueiro. Ou seja, o propósito das ruas abaixo do preamar, era para limpá-las de estrumes e urinas, largadas por cavalos e muares durante seus afazeres. Também, existia o costume, trazido da Europa, do despejo pelas janelas do penico da madrugada. As fezes e outros detritos das casas eram retirados em barris, pelos escravos da casa e despejados em rios e no mar. Muitas vezes conhecidos na história como "escravos de ganho", ou "tigres", devido às doenças de pele adquiridas pelo serviço insalubre aos quais eram submetidos.
Alguns Youtubers citam a limpeza de fezes largadas no meio das ruas e de sangue de escravos que sujavam as ruas, como se isso fosse corriqueiro. É incrível como a imaginação voa. O homem escravizado era um produto caro, e nenhum "dono" surrava seu bem ao ponto de se esvair em sangue que sujasse as ruas, podendo levá-lo à morte. Esses casos de castigo no chicote existiam sim, para os escravos que teimavam em fugir de seus proprietários ou se recusavam ao trabalho.
Outra coisa que tenho ouvido, é de que antes a maré entrava livremente e que de uns anos pra cá a prefeitura controla a entrada das marés para não subir muito. Não é verdade, não existe nenhum meio de controle da subida das marés. O que ocorre é que antigamente a rua fresca não existia, e as ruas que correm pro leste davam diretas no mar. Com a abertura da nova rua, houve a necessidade de fazer um manilhamento, exatamente para não impedir a entrada das marés e a saída das chuvas, o que provocaria o alagamento do Centro Histórico. Nos anos 80, um secretário de obras, realmente teve a brilhante ideia de fechar a entrada das marés, porém, percebeu-se que ao evitar a entrada da maré a chuva também não teria por onde escoar. Graças a Deus esse projeto não foi realizado.
Quem critica a entrada das marés em Paraty, esquece que está analisando um projeto do século XVII com olhos do século XXI.
Renan Pinto
Guia Especializado
Comments